Uma centenária com alma poética
Uma centenária com alma poética
Por Eva Alda Medeiros Cavasotto – Professora e Psicopedagoga
Você imagina chegar aos cem anos de idade? Não?
Pois em março comemoramos o aniversário da minha sogra: A Nona Josefina Vivian! Completou 100 anos!
Nesses quarenta e oito anos de casada, convivi muito pouco com ela porque moramos em Porto Alegre, e ela na serra.
Há muito tempo que ela não sai de casa e, quando vamos visitá-la, apenas curtimos os momentos felizes que passamos todos juntos. Falo pouco, porque gosto de ouvi-la contar suas histórias, que não são poucas!
Eu me encanto com sua lucidez! Uma lástima que o tempo prejudicou a visão dos seus lindos olhos azuis! Ela nos identifica pela voz, pois felizmente os anos não prejudicaram sua audição! Um dia, ficamos as duas a sós, e ela me surpreendeu com a pergunta: “Ainda lecionas? Essa pergunta demonstrou que, apesar de estarmos distantes, ela sabia com quem estava falando! Diante da minha afirmativa, ela completou: “Não lecionas mais em escola, né? ”
Puxa! Ela sabe que o tempo também passou para mim!
Há quatro anos, ela perdeu sua filha mais próxima: a que não saía nunca do seu lado!
Após o enterro, não queríamos deixá-la sozinha, mas ela, numa expressão de uma dor indescritível, disse: “Deixem-me só, preciso pensar, preciso refletir”…
Pensei: que dor! Ela queria chorar sozinha! Essa perda acelerou o seu envelhecimento, como pudemos perceber!

Ela era mais alegre, mais dinâmica…O que ainda a encoraja a seguir em frente é o carinho dos filhos, dos netos e bisnetos.
A comemoração do seu aniversário foi muito simples, atendendo a um pedido dela: não queria muita gente, só a família! Todos concordaram: só a família! Acontece que a nona teve dez filhos, nove estão vivos e cada um deles tem família e já são avós!
Apenas uma filha que mora no Paraná não compareceu por motivo de doença na família, e alguns netos que moram distantes, cada qual com seus motivos, não tiveram condições de estar presentes.
Um almoço, onde não faltou o galeto e a polenta, mesclava a gastronomia italiana com o tradicional churrasco do nosso Estado.
Ao entrar na Churrascaria, aberta com exclusividade para o evento, ela surpreendeu a todos respondendo aos aplausos, jogando flores que tirava de um cestinho de vime, muito usado para coletar uvas nos parrerais. O mais bonito da cena foi saber que a ideia foi dela. Foi um momento lindo, singelo, diante da simplicidade da Nona, que evidenciava ali sua alma poética!
Ao voltarmos para casa dela, recebemos a visita do jornal da cidade, que a entrevistou; devem ter se encantado diante daquela nona que recitou uma oração completa em italiano e, depois, acompanhou a família nas canções que fazem parte da história dos imigrantes italianos.
Ela costuma brincar conosco e dizer que vai viver até completar 114 anos!
Que Deus a abençoe, lhe dê muita saúde e lucidez para nos presentear com muitos momentos poéticos como o que acabamos de presenciar!
Eva Alda Medeiros Cavasotto é Professora e Psicopedagoga. Leciona aulas particulares com atendimento e avaliação psicopedagógico.
Contato (51) 98121- 9916 ou pelo email: evamcavasotto@hotmail.com